Já parou pra tentar diferenciar sensação de percepção? Pois é, duas grandes concepções sobre esse assunto fazem parte da tradição filosófica (até o século XX): a empirista e a intelectualista. Para os primeiros, a sensação conduz à percepção como uma síntese passiva, isto é, que depende do objeto exterior. Mais ou menos assim: o objeto exterior toca algum órgão do sentido, que vai fazer um percurso no corpo, até chegar no cérebro e depois volta às extremidades sensoriais. Cada sensação é independente das outras e cabe à percepção unificá-las e organizá-las numa síntese.
Já para os intelectualistas, as idéias são provenientes das percepções. Para eles, a sensação e a percepção são sempre confusas e devem ser abandonadas quando o pensamento formula as idéias puras. A coisa exterior é apenas a ocasião para que tenhamos a sensação ou a percepção. Neste caso, o sujeito é ativo e a coisa externa é passiva, ou seja, sentir e perceber são fenômenos que dependem da capacidade do sujeito para decompor um objeto em suas qualidades simples (sensação) e de recompor o objeto como um todo, dando-lhe organização e interpretação (percepção). A passagem da sensação para à percepção é feita pelo intelecto do sujeito.
Enfim, ambos concordavam num aspecto: a sensação era uma relação de causa e efeito entre pontos das coisas e pontos do nosso corpo. As coisas seriam qualidades isoladas e o nosso aparelho sensorial seria receptores isolados; a percepção era a atividade que juntava as partes numa síntese que seria o objeto percebido.
Em nosso século, a Filosofia alterou essas duas tradições, surgindo a fenomenologia de Husserl e a teoria de Gestalt. Para ambas, a percepção não é causada pelos objetos sobre nós, nem é causada pelo nosso corpo sobre as coisas: é a relação entre elas e nós, e nós e elas. Mostraram contra o empirismo e o intelectualismo, que não há diferença entre sensação e percepção.
Conclusão: sentimos e percebemos formas, isto é, totalidades estruturadas dotadas de sentido ou de significação.